A 29ª edição da ZUM destaca a artista Melissa de Oliveira, cuja série Cada cabeça é um mundo estampa a capa da revista. Os cortes de cabelo fotografados por Oliveira celebram a vaidade masculina e a criatividade dos barbeiros das favelas de Salvador e do Rio de Janeiro. Para a pesquisadora Bárbara Copque, o trabalho propõe uma reconfiguração da memória e uma estética que recusa o sistema das imagens de violência. A revista traz também o ensaio Casa de bonecas, do artista sul-africano Vuyo Mabheka, que recria cenas a partir das poucas fotografias de sua infância. Inspirado em jogos de faz de conta, o trabalho reflete sobre a orfandade e as desigualdades sociais que marcam a vida na África do Sul. Em Foto(cine)pintura, os retratos colorizados de Telma Saraiva, influenciados pela linguagem do cinema, revitalizam a tradição nordestina da fotopintura. O curador Bitu Cassundé destaca como a artista transforma essa prática popular em gesto de invenção e memória. Também nesta edição, o fotógrafo baiano Bauer Sá homenageia a religiosidade e a cultura afro-brasileiras em Quando se acende o sol, série de imagens rigorosas e simbólicas acompanhadas de um texto do músico Tiganá Santana. Na entrevista O sonho do cinema, as cineastas indígenas Sueli Maxakali e Patrícia Ferreira Pará Yxapy conversam com Sophia Pinheiro sobre os desafios e descobertas de um cinema feito por mulheres indígenas, em que o olhar e a escuta se tornam formas de resistência. Em Gaza e as imagens cegas, o pesquisador Rafael R. Tranche analisa a transformação das imagens de guerra diante do uso de drones, câmeras de vigilância e celulares, refletindo sobre o poder da imagem como ferramenta de defesa da liberdade palestina. A revista apresenta ainda Abelha-operária, texto que revisita a trajetória das artistas Claude Cahun e Marcel Moore, pioneiras do feminismo e da performance de gênero, cuja obra e militância antifascista são analisadas pela curadora Sophie Hackett. Em Campos de visão, a fotógrafa Gauri Gill e o artista Rajesh Chaitya Vangad constroem, juntos, paisagens oníricas ao entrelaçar fotografia e desenho, revelando a profunda ligação entre homem e natureza na Índia. O centenário de Waldemar Cordeiro é celebrado em Arteônica, texto de Priscila Arantes que revisita o legado do artista pioneiro na arte computacional e suas reflexões sobre algoritmo, estética e política. Encerrando a edição, Sebastião Salgado: o último herói, ensaio de Teresa Bastos, reflete sobre o olhar e o legado de um dos maiores fotógrafos brasileiros, cuja obra se confunde com a história da fotografia humanista do século 20.